O Enigma do Templo de Ezequiel: Por que Sacrifícios no Milênio?
Essa é, sem dúvida, a pergunta mais difícil e debatida de todo o livro de Ezequiel.
Você está coberto de razão ao afirmar que o Novo Testamento ensina claramente que o sacrifício de Jesus foi único, perfeito e irrepetível (Hebreus 10:10-18). Se Jesus já pagou tudo ("Está consumado"), por que voltar a matar bodes e touros num futuro Templo Milenar? Isso não seria um retrocesso espiritual ou até uma blasfêmia?
Para resolver esse nó teológico, os estudiosos da Bíblia apresentam três explicações principais. Você pode analisar qual delas faz mais sentido com a sua leitura das Escrituras:
1. A Visão do Memorial (Olhando para Trás)
Esta é a visão mais comum entre os que creem num Milênio literal (Dispensacionalistas).
- O Argumento: Os sacrifícios no Templo de Ezequiel não serão para salvação (pois o sangue de touros nunca salvou ninguém, nem no Antigo Testamento, cf. Hebreus 10:4). A salvação sempre foi pela fé.
- A Função: Eles servirão como memoriais (lembranças visuais). No Antigo Testamento, os sacrifícios olhavam para frente (para a Cruz futura). No Milênio, os sacrifícios olharão para trás (para a Cruz passada).
- A Analogia: Pense na Ceia do Senhor (Santa Ceia). Nós usamos elementos físicos (pão e vinho) para "anunciar a morte do Senhor". No Milênio, numa teocracia com todas as nações da terra (muitas das quais não conhecem a história bíblica), os sacrifícios funcionarão como "aulas audiovisuais" sagradas para ensinar sobre a santidade de Deus e o preço terrível que Jesus pagou. Seria uma liturgia educativa e comemorativa, não salvífica.
2. A Visão da Purificação Ritual (Não Moral)
Esta visão foca no significado da palavra "expiação" (kippur) no hebraico.
- O Argumento: A expiação em Ezequiel 43 e 45 refere-se à purificação ritual de objetos (o altar, o templo), não à purificação moral de almas.
- A Lógica: Se Jesus habitar fisicamente na Terra no Milênio, a Sua glória santa estará presente num edifício físico. Como a terra e os objetos feitos por mãos humanas são imperfeitos, a presença de uma Santidade absoluta exige que o ambiente físico ao redor seja "esterilizado" ritualmente para que a Glória de Deus possa permanecer ali sem consumir o povo.
- Conclusão: O sangue de Jesus limpa a consciência do pecado (salvação eterna). O sangue dos animais em Ezequiel limparia a contaminação física do santuário terrestre, permitindo que um Deus Santo habite no meio de uma terra ainda imperfeita.
3. A Visão Simbólica / Espiritual
Esta visão (comum entre Amilenistas e Teologia da Aliança) rejeita a ideia de um templo físico futuro com sacrifícios.
- O Argumento: Reintroduzir sangue de animais seria uma afronta à Cruz de Cristo e um retorno às "sombras" (Hebreus 8:5).
- A Explicação: Ezequiel teve a visão numa linguagem que ele (um sacerdote antigo) e o povo da sua época podiam entender. Deus usou imagens de "sacrifícios perfeitos" e "templo perfeito" para descrever a perfeição espiritual da Igreja e a adoração na Era Messiânica.
- Conclusão: Os "sacrifícios" representam o louvor, a entrega e a consagração total dos crentes, como Paulo orienta em Romanos 12:1. O "Templo" seria a Igreja ou o próprio Jesus.
Qual é a resposta certa?
Se você adota a interpretação literal (de que haverá um Reino de 1.000 anos na Terra), a Explicação nº 1 (Memorial) é a mais aceita para harmonizar Ezequiel com Hebreus:
A mensagem central, contudo, é a santidade: Deus está a dizer que a adoração futura será levada a sério, com reverência, ordem e custo, e que a Sua presença estará no centro de tudo (Yahweh Shammah - O Senhor Está Ali).
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