O Retorno da Glória
Análise Expositiva de Ezequiel 43"O capítulo divide-se em duas partes principais: a Entrada Triunfal da Glória de Deus (vv. 1-12) e as Ordenanças do Altar de Sacrifício (vv. 13-27)."
O guia leva Ezequiel de volta à Porta Leste. Porquê? Porque foi por ali que a Glória de Deus saiu quando abandonou o Templo condenado (Ezequiel 10:19, 11:23). Deus volta pelo mesmo caminho por onde foi embora, revertendo o juízo.
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A Teofania (v. 2-3):
"Eis que a glória do Deus de Israel vinha do leste".
O Som: "Sua voz era como o rugido de muitas águas". É o som de poder irresistível (como as Cataratas do Iguaçu).
A Luz: "A terra resplandecia com a sua glória". A escuridão do exílio é dissipada. Ezequiel reconhece imediatamente: é a mesma visão que ele teve junto ao rio Quebar (cap. 1) e quando veio destruir a cidade (cap. 9). O Deus que destrói é o mesmo que restaura. - A Ocupação (v. 4-5): A Glória entra pela porta, e o Espírito levanta Ezequiel para o pátio interno. "A glória do SENHOR encheu o templo". O edifício deixa de ser arquitetura e torna-se Santuário. A estrutura humana é preenchida pela Presença divina.
Uma voz fala de dentro do Templo.
- A Definição do Lugar (v. 7): "Filho do homem, este é o lugar do meu trono e o lugar para a planta dos meus pés". Deus afirma que veio para ficar. Ele chama a terra de "planta dos meus pés", indicando posse e descanso.
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O Fim da Profanação (v. 7b-9):
Deus impõe condições para a Sua permanência eterna: "A nação de Israel nunca mais profanará o meu santo nome".
Cadáveres dos Reis: Deus reclama que eles colocavam os "cadáveres de seus reis" (ou monumentos funerários de reis idólatras) junto ao Templo, apenas separados por uma parede. Isso profanava a santidade de Deus com a impureza da morte e da política humana.
A Ordem: "Afatestem agora... os cadáveres... e habitarei no meio deles para sempre". A coabitação exige limpeza total.
Deus explica por que razão mandou Ezequiel medir o templo com tantos detalhes.
- O Espelho Arquitetônico (v. 10-11): "Descreva o templo... para que se envergonhem de seus pecados". Como é que uma planta de construção gera vergonha? Ao ver a perfeição, a santidade e a ordem da casa de Deus, o povo percebe a sua própria imperfeição, impureza e desordem. A santidade do Templo funciona como um espelho moral. Se eles se envergonharem, então Ezequiel deve ensinar os regulamentos de entrada e saída. O arrependimento é o pré-requisito para a revelação profunda ("mostre-lhes a planta").
- A Lei do Templo (v. 12): "Esta é a lei do templo: Toda a área no topo do monte será santíssima". Antigamente, apenas o quarto interior era "Santíssimo". No futuro, o monte inteiro terá esse status. A santidade expande-se.
O foco muda da Presença (interior) para o Altar (exterior). Sem altar, não há como manter a Presença.
- As Medidas (v. 13): O altar é medido com um "côvado longo" (cerca de 52 cm). É uma estrutura massiva, em degraus (como um zigurate invertido).
- A Estrutura: A Base (Sene): O fundamento no chão. O Rebordo Inferior e Superior: Degraus que levam ao topo. A Lareira (Ariel): O topo do altar, com quatro chifres, onde o fogo ardia. O termo Ariel significa "Leão de Deus" ou "Lareira de Deus".
Antes de ser usado, o altar tem de ser "convertido" de um objeto de pedra para um instrumento santo.
- Os Sacerdotes Zadoquitas (v. 19): Apenas a linhagem fiel pode oficiar a purificação.
- O Ritual de 7 Dias: Dia 1: Um novilho como oferta pelo pecado. O sangue é posto nos 4 chifres e nos cantos para "purificar e fazer expiação" pelo altar. Dias 2-7: Um bode e um novilho diários.
- O Sal (v. 24): Os sacerdotes devem jogar sal sobre o holocausto. O sal é o símbolo da aliança indestrutível e da preservação.
- O Resultado (v. 27): "Ao final desses dias... os sacerdotes apresentarão seus holocaustos... e eu os aceitarei". A aceitação de Deus depende de um altar purificado.
Cumprimento Histórico e Profético
Falta de Cumprimento: Quando os judeus voltaram da Babilônia e reconstruíram o Templo, a nuvem de Glória (Shekinah) não desceu visivelmente como nos dias de Moisés ou Salomão. O Lugar Santíssimo ficou vazio. A profecia de Ezequiel 43 não se cumpriu em 516 a.C.
Cumprimento Espiritual: João 1:14 diz: "O Verbo se fez carne e habitou (tabernaculou) entre nós, e vimos a sua glória". A Glória de Deus voltou a Israel não numa nuvem, mas numa Pessoa. Ele entrou em Jerusalém pelo Monte das Oliveiras (Leste).
Cumprimento Literal: A visão literalista sustenta que a Glória visível (Shekinah) voltará a habitar num Templo físico em Jerusalém durante o Reino de 1.000 anos, validando a promessa de habitar "para sempre" no meio de Israel restaurado.
Síntese Teológica do Capítulo
A Glória Exige Santidade: Deus volta, mas impõe condições ("afastem a prostituição"). A Glória de Deus não coabita com "cadáveres" (idolatria morta). Para ter a Presença, a Igreja/Israel tem de limpar a casa.
A Arquitetura da Vergonha: O propósito da revelação bíblica (a "planta") não é apenas informar, mas humilhar o nosso orgulho. Conhecer a santidade de Deus deve produzir vergonha do nosso pecado. Se o estudo da profecia não gera arrependimento, falhou o seu propósito (v. 10).
A Centralidade do Sangue: Mesmo com a Glória presente, o Altar precisa ser purificado com sangue por 7 dias. Isso ensina que a aproximação de Deus nunca é baseada na nossa justiça, mas sempre na expiação. O Altar é o caminho para a Glória.
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